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Exclusivo : Afrikkanitha fala dos seus novos projectos


Afrikkanitha está em Luanda para concertos nos dias 20 e 21 de Julho, na Brasom (Miramar). Anabela Aya e Katiliana vão acompanhar a artista na interpretação de temas do cancioneiro angolano. Aproveitamos a sua presença no país para falar sobre o seu projecto inédito no formato Piano & Voz, com 8 temas escritos e compostos pela Afrikkanitha, mais um clássico angolano. Acompanhe a entrevista a seguir e conheça ao pormenor este novo trabalho com quase dois anos de dedicação.
Tem um novo projecto no estilo jazz, que envolve piano e voz. Fale-nos sobre as diferentes fases…já está pronto para ser apresentado publicamente? Já tem uma data para apresentação em Angola?
Tenho sim um novo trabalho, prestes a sair. Por razões alheias a minha vontade, ainda não veio a público, mas deve sair a qualquer momento. Já o tenho gravado há algum tempo, teve diferentes fases, cheguei a fazer uma pausa de 9 meses, mas depois retomei e finalizei. Agora estou a organizar-me para o lançamento a qualquer momento.
Com quem trabalhou neste projecto?
Neste projecto trabalhei com a Annie Jules, uma pianista americana, coincidentemente formada na mesma universidade em que estou a fazer a minha formação. São 8 temas inéditos, escritos e compostos por mim. A pianista fez os arranjos de piano.
Pode revelar qual o clássico angolano escolhido para fazer parte do disco e porquê?
Lilly Tchiumba – Ngongo. Porque tem uma história interessante e porque apaixonei-me pela melodia da música, foi muito muito fácil jazzificá-la.
Quanto tempo dedicou para conceber e executar o projecto?
Levei quase 2 anos a elaborar este disco porque estou a gravar outro em simultâneo, tenho muita música e precisa de sair. Este é o projecto mais simples que já fiz, mas tive que o parar inúmeras vezes, sobretudo por causa dos estudos. Eu passo o dia na universidade e só aos fins-de-semana consigo dedicar-me aos meus projectos pessoais, não tenho tempo. A universidade tem muito trabalho e a dada altura tive de abdicar de uma coisa para cumprir com a outra. Neste momento a universidade é a prioridade, por isso o disco teve de ficar à espera. A gestão do meu tempo é feita em função do meu trabalho na universidade, mas também já falta pouco para eu voltar a ter a mesma liberdade que anteriormente. Estudar é importante e estou muito feliz porque apesar de me formar tarde, estou a fazer o que sempre quis. É um sonho que se torna realidade.
 Qual o grande diferencial deste trabalho em relação os anteriores, além do uso do piano?
A temática deste é mais ou menos como a do anterior bastante focada na mulher, na valorização da mulher como tal. A mulher que precisa de ser aceite como é; a mulher que se aceita e impõe-se como é; a mulher que é muitas vezes comparada à outras sem razão de ser; a mulher amada e a desprezada. A mulher frágil como uma flor e rara como uma jóia, que vezes sem conta é muito maltratada; a mulher que carrega o mundo às costas e é ignorada, é por aí.
Apresentou anteriormente o single “Nga Madia”, onde fez homenagem às mulheres e encorajou-as a prosseguir e não desistir dos sonhos. Que reflexões sugere neste novo projecto?
No Ngá Madia homenageei a peixeira da ilha e no outro tema era uma conversa entre mãe e filha. Porque com o tempo fui percebendo que nós mulheres precisamos de cuidar mais umas das outras. O nosso mundo é tão complexo que só uma mulher igual nos consegue entender muito bem. Há um pensamento que diz que a mulher é dotada de raras belezas, mas nem todo homem é dotado da rara capacidade de enxergá-las verdadeiramente.
 O que os seus fãs podem esperar deste trabalho?
Uma sonoridade jazzy, bastante suave, bem ao meu jeito. Mais músicas em português, para o ouvido curioso e ao mais sensível e atento a pormenores que neste álbum terá apenas que lidar com dois instrumentos a trabalharem em 9 temas: a voz e o piano. É desafiador!
Quais as suas expectativas em termos de resultados, após apresentação ao público? Eu conheço o meu público e faço sempre o possível de nunca o decepcionar. Agora, é preciso ter sempre em conta que não se pode agradar a todos por mais vontade que tenhamos. Importa aqui frisar que uma vez mais sou eu sem querer me parecer à ninguém. Eu que me desafio e reinvento a medida que o tempo passa.
 Está fora de Angola há mais de seis anos. Qual tem sido a sua rotina?
Está em que fase da sua formação? Qual a previsão do término? Estou fora desde 2011. Depois do nascimento da minha última filha em 2012, ingressei em 2013, para a universidade da Flórida Memorial University em Miami, onde estou a concluir a minha formação em Estudos De Jazz. O meu instrumento é a voz, mas tive aulas de piano para ter alguma noção e porque em termos de harmonia, o piano é o instrumento usado para afinar outros instrumentos e explorar a parte harmônica. Devia ter acabado a formação o ano passado, mas o director de Estudos De Jazz e meu adviser faleceu de câncro em Dezembro do ano passado o que retardou a minha formação. Ainda em vida esteve um ano sem dar aulas porque estava muito debilitado; estas disciplinas que ficaram por fazer, são as que vou concluir agora.
Qual é o balanço que faz desde o início da sua formação até ao momento presente?
Positivo. É impossível ir para uma universidade e não aprender. Eu cresci muito, recebi muita informação. Coisas que sozinha, nas minhas pesquisas não conseguiria alcançar, precisaria de uma orientação e eu tive na universidade. A única coisa que me tem faltado desde que me tornei mãe, dona de casa, é tempo para me dedicar a sério ao que gosto. Há muita coisa que ainda não consegui pôr em prática porque quando chegasse à casa era impossível dar continuidade aos estudos, tinha que fazer o trabalho doméstico. Vejo que só depois do meu curso terei tempo suficiente para praticar algumas coisas que pretendo aperfeiçoar.
Após a conclusão da sua formação, quais os seus planos a nível profissional?
Continuar a cantar e se possível dar aulas de preferência à crianças.
Com que artistas gostava de fazer parcerias futuramente e porquê?
Uff… a lista é longa, mas aqui vão 3 que muito admiro: Dianne Reeves, Concha Buika, René Marie &… mais não digo porque não sou de revelar segredos ( )…!
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Tem planos para fazer uma tourné para divulgação dos seus trabalhos de forma geral?
Não. Teria que ter um bom patrocinador, amante de jazz para que nunca se cansasse do que faço. O Jazz é preciso antes de tudo, gostar.
A nível pessoal, aproveitando esta oportunidade, confirma os rumores sobre a separação do Simmons?
Sim. Confirmo os rumores. Há cerca de 2 anos e 4 meses, o nosso casamento terminou. Tivemos uma relação de mais de 20 anos, 3 filhos lindos, mas infelizmente nada é eterno e separações existem e nós não fugimos a regra. Sei que para muita gente será uma surpresa porque não anunciamos publicamente, mas também quem nos conhece sabe que fomos um casal que sempre primou pela discrição e uma vida longe dos holofotes. Aproveito também para dizer que não quero tocar neste assunto daqui para frente, nem em entrevistas, nem noutros fóruns.
Sempre teve o suporte incondicional do Simmons nos seus trabalhos. Contou com o auxílio dele neste novo projecto?
Sempre que possível trabalhávamos juntos. O Simmons apoiou-me sempre que pode, mas entre nós havia a liberdade de trabalharmos com quem quiséssemos porque somos profissionais e respeitamos as escolhas um do outro. Neste projecto trabalhei apenas com a Annie Jules.
Considerando os anos de ausência de Angola, do que mais sente saudade?
Eu já não cometo o mesmo erro que cometi quando vivi em França, o de ficar 5 anos sem vir à terra. Venho com regularidade à Angola e é sempre da família e alguns amigos que mais sinto saudades. Estão todos cá, eu vivo há mais de 20 anos sozinha, longe da família e amigos.
Mesmo distante, tem acompanhado as mudanças do país a nível político e social? Sim. Com as redes sociais hoje, somos forçados a saber das coisas. Depois vou apurar um assunto ou outro, mas não estou de fora.
Qual a sua palavra para aquelas mulheres que têm lutado para afirmarem-se e consolidarem na prática os direitos de igualdade no género?
A equivalência social faz parte das sociedades modernas, mas nós somos tão competentes, tão capazes de tudo que hoje já não precisamos de provar nada a ninguém. As mulheres não precisam de ser iguais aos homens, só precisam de saber qual o seu lugar e papel na sociedade e fazê-lo bem. A luta que não deve cessar é a da violência doméstica, a violência física do homem em relação a mulher. Devemos continuar a pedir que não nos matem, estuprem ou façam de nós objeto sexual porque até onde sei somos fisicamente inferiores e não há nada como um diálogo saudável para que homens e mulheres se entendam. Também é preciso que os homens aceitem que quando maltratam uma mulher por exemplo, ela tenha o direito de ir embora. A mulher foi feita para ser tratada com carinho e atenção, quando se tem isso não existem mulheres difíceis. Infelizmente o que vejo hoje é os homens tratarem as mulheres como se fossem homens iguais, deste jeito é impossível haver entendimento ou relacionamentos saudáveis.